Apesar de apresentar diferentes níveis de robustez, esta literatura demonstra que a exposição ao conteúdo violento tem diversos efeitos deletérios e duradouros, especialmente entre os jovens.
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Mídia – Entender para consumir, Responsabilidade para produzir (1)
Publicado em 13/12/2018 às 11:32Fato 1: Nosso bem-estar e nossa saúde dependem diretamente da qualidade dos nossos pensamentos e dos nossos sentimentos e emoções. Essa é uma afirmação baseada em sólidas evidências científicas acumuladas recentemente em várias áreas do conhecimento, além de ser uma diretriz de variadas correntes filosóficas e religiosas.
Fato 2: A mídia (e o conceito incorpora as redes sociais e a internet) é uma fonte poderosa de estímulos que interferem nos nossos pensamentos, sentimentos e emoções. Vivemos tempos inéditos na trajetória da espécie humana nos quais o volume de mensagens e estímulos de mídia atingem proporções inusitadas, o que gera consequências relevantes ainda a serem devidamente compreendidas.
Esses dois fatos são bastante óbvios e podem ser constatados pelo bom senso. Vamos aprofundar cada um deles para ilustrar a sua veracidade e relacioná-los a outro fato da vida atual:
Fato 3: A pandemia de problemas mentais e emocionais que assola o planeta, com prioridade para a observação do quadro brasileiro, nos quais se destaca a ampla disseminação de quadros de depressão, ansiedade, suicídios, violência e outros problemas de natureza psíquica. As evidências apontam para uma dramática aceleração desse quadro patológico nos últimos dez anos – período que coincide com a ampla disseminação da comunicação digital e das redes sociais. Essa coincidência não representa necessariamente uma relação de causa e efeito, mas chama a atenção e merece estudos.
O resultado dessa reflexão será, necessariamente, a produção de intuições sobre formas de consumir e produzir mídia de modo que não gerem problemas psíquicos para as pessoas e, ao contrário, absorvam da mídia o seu enorme potencial positivo para melhorar a vida pessoal e a sociedade.
Parte-se do ponto de vista que todas as pessoas são, na sociedade em rede em que vivemos, receptoras e também produtoras de mídia, pois as redes sociais permitem a ampla disseminação de conteúdos produzidos por indivíduos.
O surgimento do que poderíamos chamar de “indivíduo midiático” é uma novidade histórica, mas a reflexão abrangente sobre o tema exige atenção sobre a dinâmica da produção dos conteúdos profissionais de mídia e todos os segmentos integrantes da chamada “indústria cultural”: empresas de comunicação, patrocinadores, anunciantes, roteiristas, publicitários, jornalistas, produtores culturais e outros.
A indústria cultural perdeu o monopólio com a emergência do “indivíduo midiático”, mas ainda é a força preponderante na produção de conteúdos que impactam as pessoas. O seu momento merece reflexão à luz dos problemas da atualidade e das novas evidências da ciência, e novas posturas e comportamentos podem e devem ser colocados em debate.
Da mesma forma, merece abordagem o contexto legal, regulatório, público e democrático no qual a mídia é produzida e comercializada (no caso da indústria cultural). A mídia tem enorme influência na vida social e no bem-estar dos indivíduos. Sua importância reforça a legitimidade da reflexão para que ela seja uma força a serviço do desenvolvimento da sociedade e dos indivíduos, reformando aspectos que comprovadamente estimulam dinâmicas pessoais e sociais negativas.
É um programa ambicioso que vamos desenvolvendo aos poucos, e comentários são bem-vindos.
Roger Ferreira
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