2019: 71% do tempo dedicado a assuntos violentos e/ou negativos
- Violentos (%) 21
- Negativos (%) 50
- Positivos (%) 21
- Neutros (%) 8
A iniciativa Paz na Mídia avaliou 25.870 matérias publicadas ao longo de 2019 nos quatro principais telejornais do país (Jornal Nacional, Jornal da Record, Jornal da Band e Jornal do SBT) e constatou: os noticiários submeteram os brasileiros a 462 horas de notícias negativas (o que dá a média diária de 88 minutos), sendo que outras 162 horas trataram de violência (37 minutos em média a cada dia). As matérias sobre aspectos positivos da realidade somaram as mesmas 162 horas destinadas aos assuntos violentos. Somadas, as matérias que mostraram assuntos negativos e violência corresponderam a 71% do tempo dos telejornais.
Esse quadro é grave na medida em que há fortes indicativos de que existe relação de causa e efeito entre a violência exibida na mídia e a prática futura de atos violentos. Já a abordagem dos problemas pela mídia tem, muitas vezes, o objetivo de despertar sensações negativas – em vez de estimular a busca de soluções. O acúmulo dessas sensações ajuda a construir uma sociedade amedrontada, tensa e doentia. As matérias positivas sobre a realidade representaram 21% do tempo dos telejornais. Se alguém baseasse a sua experiência de vida apenas pelo que viu nos telejornais em novembro teria motivos para deprimir-se.
Mês a mês
Em janeiro, mês de férias e da posse do novo governo, a mídia foi ainda mais negativa do que na média do ano (61% de exposição negativa contra 50% da média anual). As rebeliões em presídios no Norte / Nordeste ocuparam vastos espaços e ocorreu a tragédia de Brumadinho.
O mês de fevereiro se destaca pela grande repercussão do rompimento da barragem de Brumadinho e a intensa busca de centenas de vítimas que foram soterradas pela lama. Também houve grande repercussão pelo acidente que provocou a morte do jornalista Ricardo Boechat. Foi um mês de muita crise política. Bolsonaro teve problema para ter decretos aprovados e houve crise política na América latina, em especial na Venezuela com a briga de poder entre Nicolás Maduro e Juan Guaidó.
Março foi um mês de grande exposição de violência nos telejornais (24%, contra 21% da média anual), apesar de ter sido o mês do Carnaval. O massacre numa escola de Suzano teve grande repercussão e também o atentado que deixou dezenas de mortos numa igreja na Austrália. Dentro de um período curto de tempo, o mês se destaca pelos atentados no Ceará e pela tragédia do edifício onde funcionava uma escola que desabou e matou centenas de pessoas na Nigéria, sendo a maioria crianças.
O mês de abril teve como destaque nas notícias sobre violência operações policiais contra quadrilhas e casos de feminicídio, com diversos relatos sobre agressões e abusos sexuais. O mês também trouxe as denúncias e a prisão médium João de Deus.
Em maio houve um pouco mais de notícias positivas (20% contra 17% da média anual) devido ao Dia das Mães e às comemorações do Dia do Trabalhador. Dentre os casos violentos e negativos teve destaque o ataque contra um complexo de prédios da Prefeitura de Virgínia que deixou 11 mortos. Também foi noticiada a tragédia que atingiu uma família inteira de brasileiros no Chile. Os seis brasileiros foram encontrados mortos em um apartamento em Santiago intoxicados por monóxido de carbono.
Em junho houve grande volume de notícias com a acusação de estupro da modelo Najila Trindade contra o jogador Neymar. Também foi notícia veiculada exaustivamente o assassinato do ator Rafael Miguel pelo pai de sua namorada. Outro caso de violência ocupou o noticiário: o assassinato do pastor Anderson no Rio de Janeiro. Com todos esses casos, a participação do noticiário sobre temas violentos chegou a 27%, contra a média anual de 21%. Em junho houve também um volume maior de notícias neutras devido à realização da Copa América (11%, contra 8% da média anual).
Julho foi marcado por crises políticas pelo mundo, como a crise na Venezuela, a crise de imigração entre México e EUA e a discussão sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, compondo um quadro de assuntos negativos. O noticiário destacou também confrontos violentos entre manifestantes e policiais durante os protestos na Venezuela e Hong Kong, além de notícias sobre massacre no presídio de Altamira que deixou 62 presos mortos.
O mês de agosto teve um alto número de assuntos negativos devido a polêmicas sobre as queimadas ilegais e incêndios na Mata Atlântica e Amazônia durante o período de seca. Houve também uma operação policial acompanhada pela mídia que terminou com um sequestrador baleado por atirador de elite na ponte Rio-Niterói.
Setembro foi marcada pela exposição maciça da morte da menina Agatha no Rio de Janeiro por uma bala perdida.
Outubro foi marcado por convulsões sociais e políticas com protestos violentos no Chile, Uruguai, Venezuela, Bolívia e Colômbia e o noticiário violento chegou a 25%.
Em novembro os relatos sobre protestos políticos violentos continuaram em evidência e o falecimento do apresentador Gugu Liberato.
Dezembro, apesar do Natal e das festividades de final de ano, foi um mês de noticiário violento acima da média (28% contra 21% da média anual) por causa de fatos como as mortes em Paraisópolis após operação policial, atentados contra indígenas e muitos casos de assaltos e roubos.
Veja as tabelas completas aqui.
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